14.03.2008.
“Não era naquela altura nem guerra, nem seca, nem cheias, nem peste. Mas houve apenas a má vontade de algumas pessoas contra outras. E ninguém sabia quanta gente inocente acabou por morrer – velha, jovem, as crianças, até aqueles que não viram a luz deste mundo – na barriga da mãe…”
Todas as pessoas e o povo em geral querem perceber o que se passou no passado, fazendo passar por própria alma os dados históricos verídicos. Compreender o que se passou connosco nos momentos recentes e passados da nossa história. Compreender e explicar a si, a todo o mundo: porquê e como isto aconteceu.
A fome propagou-se durante o ano de 1932, ganhou a maior força em 1933. Estima-se que no início do ano uma família rural com agregado em média de cinco pessoas possuía cerca 80 kg de trigo para alimentar-se até à próxima colheita. Cada membro da família tinha 1,7 kg por mês. Ao ficar sem pão, comia-se gatos, cães, ratos, casca de árvores, folhas, até os restos das cozinhas cheias dos membros do partido.
A fome obteve a maior envergadura depois da conclusão do trabalho da comissão de aprovisionamento de pão na Primavera – Verão de 1933.
Primeiro morreram, como regra, os homens, mais tarde – as crianças e por últimas – as mulheres. Mas, antes de morrer, as pessoas muitas vezes enlouqueciam, perdiam a sua identidade humana. A fome fazia com que a moral passava para o último lugar. Em muitas localidades foram registados casos de canibalismo, e os activistas do partido continuavam a confiscar o pão, não obstante aldeias inteiras morriam de fome.
Não tendo coragem ver o sofrimento dos filhos e com esperança de salvar as suas vidas, os pais às vezes deixavam os seus bebés à porta dos orfanatos nas cidades. Das inúmeras fontes históricas e estatísticas surge um número terrível – não menos de 3 milhões 900 mil crianças morreram nos anos de 1932-33 vítimas de fome nas terras ucranianas.
As testemunhas contam que a fome limitava-se pelo território ucraniano, os camponeses ucranianos que sofriam de fome foram proibidos de sair da Ucrânia e ir viver na Rússia. Na fronteira com a Rússia foram instalados destacamentos que alojavam os camponeses que pretendiam salvar-se pondo-se em fuga através da fronteira com a Polónia ou a Roménia.
A fome na Ucrânia foi premeditada, o que prova a decisão política de não reconhecer a fome e não deixar a Ucrânia receber a ajuda alimentar vinda do Ocidente.
A Fome na Ucrânia não teve as causas económicas mas politicas, não se pode negar o planeamento do genocídio da Fome.
A fome de 1932-33 tornou-se uma tragédia nacional dos ucranianos. Não se pode não admitir a ideia que “O maior resultado dos ucranianos neste período (anos 30) foi que eles sobreviveram a Fome”. Para além das perdas de vidas humanas e um impacto moral enorme, a fome causou um prejuízo não reparável à vida nacional dos ucranianos. Ela praticamente destruiu a antiga aldeia ucraniana com as suas melhores tradições. Em vez dela apareceu uma aldeia de kolkhoz que nunca se revoltou contra o poder soviético. Durante várias gerações em diante, a Fome de 1932-33 implantou na consciência dos agricultores o medo social, apatia e passividade política. A fome quebrou a continuidade das gerações da elite nacional ucraniana. A fome fez parar a “ucranização” das cidades da Leste e do Sul da Ucrânia; depois dela, o aumento dos habitantes nas cidades foi por conta da migração da Rússia. As sequências da Fome sentiam-se até à desintegração da URSS: a fuga da juventude das aldeias, o desaparecimento de milhares de povoações do mapa da Ucrânia.
O mundo deve saber toda a verdade sobre o genocídio na Ucrânia em 1932-33, causado pela fome artificial. A verdade sobre a Fome até hoje procura os caminhos à consciência da população…
Maria Dets |