Um estudo da Universidade de Coimbra concluiu que 54,9%
dos imigrantes do Leste são muito vulneráveis ao 'stress' e que 10,4%
apresentam "provável doença do foro mental". Alina
(nome fictício) tinha 37 quando chegou a Portugal em busca de uma vida
melhor. Mas esta não é uma história com final feliz. A engenheira
mecânica romena trabalhou durante três anos como interna num lar de
idosos e o isolamento e a falta de horizontes fizeram com que caísse
numa depressão profunda. Para a psicóloga Ana Paula Monteiro, os
imigrantes do Leste europeu em Portugal estão mais sujeitos ao stress e
à depressão. Até porque têm demasiadas habilitações académicas para as
profissões que acabam por exercer no País. Esta é uma das
conclusões de um estudo que realizou sobre a saúde mental dos
imigrantes da Europa do Leste no País. A professora universitária
entrevistou 566 imigrantes e concluiu que 54,9% revelavam "níveis
elevados de vulnerabilidade ao stress", contra 30,9% dos portugueses
inseridos no grupo de controlo. Além disso, 10,4% apresentaram
"provável doença do foro mental". Além dos factores inerentes à
condição de imigrantes - as saudades da família e do país natal e as
dificuldades com a língua, por exemplo -, esta população "altamente
qualificada" do ponto de vista académico e profissional (muitos tinham
profissões na área da medicina ou engenharias) sofre com a falta de
perspectivas. A professora na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
refere o caso de um cirurgião empregado na construção civil cuja
"grande preocupação era proteger as mãos". No caso da romena
Alina, a depressão obrigou mesmo a um longo internamento num hospital
psiquiátrico. "Foi o hospital que nos contactou para prestarmos apoio",
conta Maria Iancu, da Associação de Imigrantes Romenos e Moldavos
Fratia, que seguiu a situação. Alina "acabou por voltar para a
Roménia", conta a veterinária de 54 anos. "Sem o apoio da família, às
vezes longe dos filhos, vendo os seus horizontes drasticamente
reduzidos, muitos imigrantes acabam por entrar em depressão", explica. Paulo
Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, diz que o
psicólogo com quem trabalham conhece "vários casos de suicídios de
pessoas que não conseguiram adaptar-se". "Queixam-se de que não
aguentam, que estão a desperdiçar o seu potencial", diz. Paulo
recorda a situação de Nadiya Umanska: professora na Ucrânia e empregada
doméstica em Portugal. "É a presidente do núcleo de Águeda e como
felizmente é uma pessoa muito forte dedica-se ao trabalho voluntário
para não desperdiçar o seu saber", conta. Mas para o imigrante
ucraniano, em Portugal há nove anos, o fundamental para manter a
sanidade mental é mesmo aprender a língua. "Quando as pessoas não
conseguem comunicar, é muito complicado, e além disso é importante para
conseguir emprego." Timóteo Macedo, da Associação Solidariedade
Imigrante, que tem 17 mil associados, gostava de ver este estudo
alargado a outras comunidades. Até porque acredita que os imigrantes do
Leste, juntamente com os brasileiros, são dos que têm menos problemas.
Fonte: Diário de Notícias
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