Cefas. 16h, 3 de Maio de 2008. Festa da mãe da comunidade ucraniana em Águeda. Uma imagem de Maria, José e o Menino, ocupa o centro do cenário. Girassóis entremeiam-se em vimes, simulando a casa ucraniana. Duas bandeiras. A portuguesa, à direita. A ucraniana, à esquerda. A mãe, a figura da tarde. Nadiya Umanska, a Presidente, da subdelegação de Águeda da Associação dos Ucranianos em Portugal, a personificá-la. Crianças de trajes coloridos ocupam as primeiras filas da sala. Grinaldas de flores coroam os cabelos loiros das meninas. São os filhos mais novos da Ucrânia, ali para cantar, dançar, fazer teatro e dizer poesia. Os meninos do coro infantil da d’Orfeu, novinhos a estrear, os nervos à flor da voz, sentam-se, disciplinados, e vão olhando os pais, que lhe acenam sorrisos de confiança. Na assistência, mães, pais, outros familiares, amigos. Ucranianos, bastantes. Portugueses, poucos. Nadia conduz a tarde, por onde passam artistas de palmo e meio, gente em crescendo e gente grande, a pintar o Cefas com as cores, a cultura e a saudade da Ucrânia. Convidados de Lisboa e de Castelo Branco trazem dança, poemas, testemunhos de amor ao seu país e dizem saudade em ucraniano. Eu entendi-a em português. Nataliya Umanska, filha de Nadiya, cantou à capela. Pareceu-me prece. Não um sussurro, mas um quase grito. De certeza, um hino de amor a essa terra, de onde tiveram de partir. E agora, chamam-nos. Os dorfeuzinhos. Com pianista (Ann Marie Simões), maestrina (Stanislava Pavlov), e capas de música. Como gente grande. Cantaram, enterneceram e fizeram cair lágrimas de mãe. Lágrimas redondas, de fim de tempo. E depois os jovens da Cruz Vermelha, do projecto Asas Pró- Futuro. Os “Just Boys and Girls”. Os do hiphop. Os que dançam com tudo. Com o cabelo, os cotovelos, os dedos dos pés, as sobrancelhas, com todos os poros do corpo. Os que buscam “asas para o futuro”. No fim, todos à volta de uma mesa. Como na Ucrânia, Como em Portugal. Como em quase todo o mundo. Fomos alguns. Um dia destes, havemos de ser mais. Havemos de ser tantos que havemos de cantar, sem paredes, um hino às mães de todas as cores e ensurdecer os deuses. Como os girassóis.